VERSOS MALVADOS
NALDOVELHO Malvado é um piston em surdina num pranto dilacerado, madrugada chuvosa de inverno, num quarto de hotel junto ao cais. Louis Armstrong que o diga! Malvada é uma flauta que brota inquieta, nostalgia que rola sem pressa, manhãs nubladas de julho, e a vida sufocada num embrulho, difícil de desmanchar. Malvados são os acordes insanos de uma guitarra cigana sem planos, estradas, jornadas incertas, que teimosamente eu tento, lugar algum pra chegar. Malvado é o espinho da rosa que sangra as mãos de quem colhe, manchadas as teclas do piano, sinfonia ardida de enganos, e que, ainda assim, eu teimo em tocar. Malvado é o entardecer numa cidade deserta, e um vento frio me invade, e um cisco no olho disfarça a lágrima que teima em chorar. Malvado é o apito de um trem, que diz até logo e um abraço. Quem foi, partiu pra bem longe, prometeu que voltava um dia, não sei por onde andará. Malvado é o poema que eu choro, que diz da solidão que eu temo, em matizes sombrios que eu sonho, Michel Legrand ao piano... Tem coisas que, apesar dos anos, eu não consigo esquecer. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 15/05/2009
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