DEPOIS DAQUELAS PEDRAS
NALDOVELHO Depois daquelas pedras, há uma passagem, e só quem por ela penetra, percebe importantes e delicados momentos: luz da lua por janela entreaberta; samambaia chorona cochichando com avencas, monsenhor apaixonado por bromélias renda portuguesa discretíssima, só observa; borboleta pousada bem no ombro esquerdo busca uma chance de revelar seus segredos; palavras que sorriem quando ditas em versos; cata vento que venta ao contrário e traz cheiro de mato pra dentro do quarto; portas e gavetas abertas, escancarado o armário; colibris que escrevem poemas, hoje, em meu jardim já são dezesseis! Madrugada que avisa que o dia que chega vai ser de preguiça, chuva fina e aconchego, mulher amada aninhada em cobertas, pernas entrelaçadas com as minhas embriagadas; essência de alfazema espalhada pelo quarto; dragão tatuado que solta fogo pelas ventas, e aquece o ambiente, dias frios de inverno, café quente e encorpado, e ainda quero um cigarro! Detalhes, pequenos pecados, prazeres confessos, segredos revelados, sonhar acordado, seus olhos bordados a tecer muitas teias; e tem também o conhaque, e o vinho tinto e encorpado; e algazarra de pássaros na janela da sala, passarada danada se expulso de lá, me invadem o quarto! Depois daquelas pedras, há uma passagem e só quem acredita consegue com o tempo, viver no mundo de dentro sem abrir mão da vida lá fora. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 18/05/2009
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