FLOR DE LIS
NALDOVELHO Um trem na estação anuncia a partida, um navio malvado levou minha amada. Estrada que segue e anuncia a distância e a rosa, tão linda, despetalada no chão. Madrugadas repletas de amores dispersos, desencontros, viagens, cicatrizes, feridas, a saudade inclemente aninhada em meu peito e o espinho da rosa sangrou minha mão. O vento varreu o outono pra longe, trouxe chuva insistente, noites tão frias, calou as conversas, esquinas desertas, foragida a lua pra bem longe daqui. Palavras que em versos se mostram estranhas e acasaladas, insanas, inventam a cantiga. Sonoridade profana, orgia de versos, remédio pras dores do desamor. Mandei construir no quintal lá de casa um templo sem portas, janelas, tramelas, um templo de versos, cantigas, poemas, sagrei o meu pranto, semeei o meu canto, e orei em silêncio, aguardando o porvir. Notícias dos longes dão conta que em breve um outro navio vai aportar por aqui, trazendo a certeza da delicadeza, muitas outras cantigas repletas de versos e ainda bem que o tempo cicatrizou as feridas, preservou a semente que brotou flor de lis. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 19/05/2009
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