DAS POSSIBILIDADES
NALDOVELHO É possível que, qualquer dia desses, eu vá até Índia, e lá estando, purifique o meu corpo no Ganges. Depois: vá conhecer o Taj Mahal e, finalmente, num templo budista, devidamente incensado, consiga elevar de vez minha alma e atingir o tão falado Nirvana. É possível que, nesse mesmo instante, do outro lado do oceano, alguém esteja a dizer: quantas besteiras fizemos! Poderia ter sido diferente. É possível que na minha volta ao Brasil, quando a caminhar pelas ruas da cidade, eu morra de bala perdida. Afinal estamos no Rio de Janeiro e, esse tipo de coisa, já faz parte do cotidiano. É possível, porém, que isso não aconteça e que o meu Santo Padroeiro continue a abençoar o poeta, mantendo-o vivo e por inteiro. É possível que, ao sobreviver, eu escreva um livro de contos. É possível, até, que eu continue a escrever poemas e componha de quebra uma linda cantiga, só para enaltecer em nós, os desencontros desta vida. É possível que a Poeta da Pena Inquieta, descubra que o velho que lhe levou as ervas, vez por outra, lhe faz uma visita e, encantado pela qualidade dos seus versos, diga assim orgulhoso: eu bem que avisei! É possível que, qualquer dia desses, eu tome um trem e vá a Recreio, e de quebra dê um pulinho até Leopoldina... Quem sabe possa descobrir o paradeiro da Nana? Impossível, vai ser, não visitar a Chácara do Desengano. Quantas preciosas lembranças eu guardo daquele lugar. É possível que, num dia desses, a Carolina Ferraz, ao olhar bem dentro dos meus olhos assim diga: Eu nunca te vi, mas sei que te amo! É possível que o leitor desavisado, ao ler esta prosa, assim diga: coitado! Ainda não desaprendeu a sonhar. É possível que aqueles que hoje se escondem e se negam ao poema, descubram que a dor que se faz contida explode um dia em ferida, difícil de se curar. É possível que descubram o endereço: estação dos versos confessos, onde o lapidar constante transforma coisa cristalizada em prosa. É possível, infelizmente, que nada disso aconteça! No entanto, sempre valerá a pena, pois já disse: sou um tolo, um poeta, que acredita até gnomos. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 21/05/2009
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