SOBRE O CADAVER DE UM POEMA
NALDOVELHO Velhas carpideiras choram sobre o cadáver de um poema, pássaros em debandada, chuva de vento, constrangimento, sudoeste que se aproxima e varre meus pensamentos e as pessoas pelas ruas passam, e não param. Na torre da igreja: sinos, esperança, missa das seis. Na cidade chove um absurdo de lamentos. Mais um cadáver! Desta feita um soneto e um beija-flor se debate inutilmente. Paixão construída em versos que o tempo desmaterializou. Luz da lua insiste em se mostrar nublada, portas e janelas permanecem fechadas, e aqui em meu quarto: tuas cartas, um maço de cigarros, um livro de contos, e as teclas do piano entristecidas: harmonia em tom menor, melodia dissonante, arrastada, quase fúnebre. Lá fora, carpideiras continuam seu trabalho, versos espalhados, incoerentes, embaralhados, rimas pobres, mutiladas, dilaceradas. Ao longe: ritmos tribais, linguagem estranha, coisa panfletária, mensagem do avesso. Aqui dentro: o poeta agoniza e chora: solidão, nostalgia, desentranhamento. Morre o homem, sobrevive a poesia. Na pedra fria seu epitáfio, ainda assim, as pessoas passam e não param! Aqui jaz minha reflexão. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 22/05/2009
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |