PREDADOR DE SI MESMO
NALDOVELHO Dentro do quarto: curto circuito, coito interrompido, coisa mal resolvida, prenúncio de partida, de preferência sem despedidas. Quem foi que disse que era para ser eterno? O poeta? O poeta é um louco! Abre a janela, derrama sonhos, inquieto se entrega ao abandono, escreve um monte de bobagens e morre. Morre ausente de si mesmo, morre de amor e vida, sufocado por dor de partida, bêbado de desenganos, soterrado em seus escombros. Lá fora, o tempo finge que vai embora, anuncia ser mero observador, ri da pretensão do poeta, mostra que a eternidade não existe, e diz que aquele que insiste vira o seu próprio predador. Dentro do quarto: poemas, inventário dos meus estragos, alguns perecem inacabados; outros: pretensas tentativas de me eternizar nas palavras... O poeta? O poeta é um tolo! Prenúncio de despedida, predador de si mesmo, derramado em seus sonhos pelos becos sem saída, esquinas que ele não dobrou, poesia que ele não ousou. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 22/05/2009
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |