NALDOVELHO

POESIA É ATO DE CORAGEM

Textos

PREDADOR DE SI MESMO
NALDOVELHO

Dentro do quarto: curto circuito,
coito interrompido, coisa mal resolvida,
prenúncio de partida, de preferência sem despedidas.
Quem foi que disse que era para ser eterno?
O poeta? O poeta é um louco!
Abre a janela, derrama sonhos,
inquieto se entrega ao abandono,
escreve um monte de bobagens e morre.
Morre ausente de si mesmo,
morre de amor e vida,
sufocado por dor de partida,
bêbado de desenganos,
soterrado em seus escombros.
Lá fora, o tempo finge que vai embora,
anuncia ser mero observador,
ri da pretensão do poeta,
mostra que a eternidade não existe,
e diz que aquele que insiste
vira o seu próprio predador.
Dentro do quarto: poemas,
inventário dos meus estragos,
alguns perecem inacabados;
outros: pretensas tentativas
de me eternizar nas palavras...
O poeta? O poeta é um tolo!
Prenúncio de despedida,
predador de si mesmo,
derramado em seus sonhos
pelos becos sem saída,
esquinas que ele não dobrou,
poesia que ele não ousou.
NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 22/05/2009
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