VERSOS RECEOSOS, QUE PENA!
NALDOVELHO Versos receosos de atravessar rios, pinguelas, ficam zanzando, coitados, sempre do mesmo lado, não buscam outra margem do rio, nem palavras que sejam estranhas, só falam do amor comportado, ou então, da dor do abandono. Tudo meloso demais! E repetem desesperados, tipo cachorro sem dono, a mesma cantiga faz tempo. Receiam cometer heresias, não sabem da coisa vadia, das coxas molhadas de cio, do veneno que circula no sangue, e do hálito da mulher dama. Não sabem da garrafa de cachaça, da língua a provocar arrepios, e do escorregar e cair do meio-fio. Versos bem comportados, sempre os mesmos coitados, não sabem da madrugada e do orvalho, do sonho e do emaranhado de fios, do rastilho de pólvora e pavio, da fogueira que queima as entranhas, do renascer, da redenção dos pecados, só que faria bem diferente, atravessaria outro lado do rio, abraçaria palavras estranhas, seria dessa feita um poema, e ainda que cometesse enganos, tentaria tudo outra vez. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 23/05/2009
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