CIRCENSE
NALDOVELHO A corda bamba esticada, uma sobrinha colorida, me mantém equilibrado. O elefante empacado não anda nem desanda. O tigre de bengala, a leoa desdentada, o trapezista que se lança num vôo cego e arrojado. Uma pirueta, um salto mortal, o palhaço faz careta divertindo a garotada. A mulher que engole fogo, pipoca, algodão doce. A bailarina se contorce ao som de um minueto e o amor que eu sentia não era muito, se acabou. Já não sou uma criança e a danada da esperança foi embora com o circo. Outros rumos, outra estrada, e eu aqui sem paradeiro a escutar o som de uma risada. Um minuto de silêncio, aqui jaz Seu Serafim, poeta e domador, abandonou vida de artista por conta de um grande amor. O nome dela: Eleonor, mulata salseira, atrevida, logo saltou de banda, largou o pobre na lona, arriado num beco escuro, a cara cheia de cachaça e uma dor que não tem fim. Saudades dos saltimbancos e da leoa banguela, o nome dela: Florisbela. Adorava escutar meus versos e ronronava pedindo bis. Já não tem mais brincadeira e o espetáculo terminou, quem quiser que conte outra, pois o tempo desta prosa escoou pelos seus dedos, feito água fria e clara de um pote de esperanças que desastrado eu derramei. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 23/05/2009
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