ANJO INOCENTE
NALDOVELHO Anjo ferido na beira do abismo, não sabe que o colo que aquece padece, não sabe a criança de olhar inocente que a mão que semeia também sabe ferir. Não sabe da farpa, da fuga e da fúria, não sabe da faca, do corte e do sangue, mas sente a dor da sede e da fome, ressecadas as lágrimas, nem sabe sorrir. Anjo inocente na beira do abismo não sabe seu nome, nem seu sobrenome, olhar embaçado, desesperançado, não sabe das águas, do trigo e dos sonhos, teu tempo é escasso, logo-logo partir. Armei um presépio lá em casa este ano, o Cristo era negro e morria de fome, na mesa tua carne, nos copos teu sangue, nas ruas do mundo a inconsciência do homem; transpassados os cravos, dilaceram-te as mãos. Por mais que eu tente não consigo sorrir. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 24/05/2009
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