VERSOS MESTIÇOS
NALDOVELHO Versos mestiços de fantasia e lamento: de feridas que sangram noite e dia, com cicatriz merecida medalha; de água cristalina da fonte, com lama de resto de enchente; de vinho levemente adocicado, com a maldita e ardida aguardente; de corpo de mulher, por amor, abrasado, com travesseiro solitário e molhado; de veneno que queima as entranhas, com saliva que embriaga e assanha; de nostalgia de fim de tarde, com saudade que até hoje me arde; de alguém que me bate a porta, com um não sei onde guardei a chave. Versos mestiços de sonho e pesadelo, de canto de pássaros em meu quarto, com pardais a destruir meus canteiros; de preguiça em manhãs frias de outono, com dores nas costas, abandono! de vontade de fazer uma viagem, com o medo de comprar a passagem; de volta e meia um sorriso gostoso, com lágrimas de um tempo chuvoso; de café quente e encorpado, com o veneno no prazer de um cigarro; de palavras macias como a brisa, com a amargura de uma frase debochada; de poemas, ainda que poucos os leiam, com textos molhados de orvalho e de lua cheia contaminados; de beijos e abraços no momento da chegada, com o silêncio pesado da hora da despedida; de música suave a enlevar nossas vidas, com tambores de guerra a abrir novas feridas. Versos mestiços, ainda bem que os tenho! Curam a alma, pena que viciem. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 24/05/2009
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