TESTEMUNHA OCULAR
NALDOVELHO Sobre o tapete do meu quarto um grupo imenso de letras passeia alegremente. Um outro grupo indolente, preguiçosamente, sobre a cama, cochila impunemente. Mais outras tantas, no sofá, acomodadas, assistem à televisão à espera do noticiário. Sobre a estante, num vai e vem incessante, milhares delas tentam se organizar sobre uma folha de papel em branco. Buscam acasalar-se em sílabas na tentativa insana de formar palavras, verbos, frases, significados. Algumas, mais românticas, preferem construir versos; letras líricas e emocionadas, acreditam que possam unidas edificar um belo poema, uma mensagem de amor. Letras ousadas! E enquanto isto em minha mente, notas insistentes ecoam, seres alados e impertinentes na pretensão de se unirem aos versos em harmonias explícitas, sensuais, viscerais, melodias sedentas que possam deixar marcas bem fundas dentro de cada um de nós. Só falta então abrir a janela e deixar a danada da inspiração entrar e dar sentido a toda esta orgia. E acreditem! Não há nada que eu possa fazer a respeito: sou só uma testemunha ocular. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 26/05/2009
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