NALDOVELHO

POESIA É ATO DE CORAGEM

Textos

À MULHER QUE EU NÃO MEREÇO
NALDOVELHO

Como ter a pretensão de ser a metade
de alguém que se mostra assim tão inteira,
absolutamente plena?

Pois, ao mesmo tempo, que tu te apresentas
tal qual brisa suave, tipo fresca aragem,
surges também tempestade a modificar a paisagem,
só para desentranhar de mim boas sementes,
coisas preciosas, segredos, presentes.

Se de repente eu me quedo em silêncio,
tipo atormentada calmaria,
surges então pé de vento a me levar noite adentro
através de madrugadas molhadas
e a me deixar beber em teu colo todo o orvalho
que a noite foi capaz de trazer,
só para matar minha sede e me alimentar de prazer.

Como ter a pretensão de ser a metade
de um foco de luz tão intenso
que ilumina e cura as feridas,
e que descortina novas sendas, caminhos
que eu nunca fui capaz de perceber?

Se és chama branda e suave
que hoje me aquece do frio,
se és a graça que eu preciso e confio
para restaurar no poeta a alegria de viver,
como eu poderia pretender?

Não... Não há como ser a tua metade,
no máximo uma fração menor anexada ao teu ser.
Seria então apenas um amante,
que fosse, porém, sem nós, sem algemas,
para poder descobrir em ti a ternura,
para poder enfim chorar sem vergonhas,
não pela dor ou desencantos tamanhos,
mas por pura sensibilidade à beleza
que eu sei, um dia eu vou te merecer.

E aí verias, num meu sorriso a verdade
de um homem liberto e harmonizado,
que por opção, a ti aprisionado,
pois bendita a mulher que me atravessou o caminho,
só para ensinar umas coisinhas,
essenciais para que eu possa crescer.

NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 27/05/2009
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras