ESTRANHAS HISTÓRIAS
NALDOVELHO Lembra das estranhas histórias que você costumava nos contar? Já não são tão estranhas, pois o rio que por aqui passava, hoje passa em outro lugar. E lá na estação tem um trem que não solta mais fumaça, que tem pressa, que não sabe esperar e que certamente vai levar coisa alguma pra nenhum lugar. Sabe o cigarro de palha que você custava tanto a enrolar? Hoje já vem enrolado num embrulhinho tão caro, não dá nem pra comprar! Crianças brincando pelas ruas já não existem e se existem, mudaram para outro lugar, ou então foram proibidas de brincar. Amora na beira da estrada? Nunca mais ouvi falar. Fieira de peixe em noite de lua? Não dá mais pra pescar, vieram uns homens dos longes, mudaram o curso das águas, prenderam o rio numa represa e lá, ninguém pode entrar. Lembra do sujeito engravatado que vendia o progresso dizendo que tudo ia melhorar? Morreu afogado numa enchente, chuva forte que os homens não conseguiram represar. E a casa da esquina? Muro de pedra, quintal com pomar... Mandaram derrubar! Virou uma gaiola esquisita, não dá nem gosto de olhar. Bater um papo na esquina? Tocar violão na calçada? Nem pensar! Hoje todos têm muita pressa, querem chegar bem cedinho, dormir e não descansar. No mais, é só muita saudade e ficar aqui contando prosas. Espero que estejas bem! Um abraço do velho amigo, que ainda não conseguiu ir embora, que ainda não conseguiu se libertar. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 27/05/2009
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |