LÁGRIMA INCONVENIENTE
NALDOVELHO Palavras amordaçadas, sufocadas, soterradas; poemas insurretos, só sobrevivem nos sonhos. A emoção que se esconde sorrateira entre os dentes, lágrimas indigentes, represadas, latentes. Não posso confessar que te amo! Não devo declarar que te quero! Não quero mais a dor de um quem sabe? Pois o meu sangue hoje se arrasta por vias estreitas, congestionadas, e pelos capilares já nem passam! Por força de tantos atritos, conflitos, detritos... Se eu insistir: enfarto! Melhor colar em meus lábios um sorriso, um que seja bastante convincente, mas não a ponto de ser contundente, senão pode soar falso aos descrentes que vivem a buscar um sinal de fraqueza que possa me denunciar. Deixe que permaneçam desatentos, não devo demonstrar meu desalento, não posso mais dar asas à incerteza, ainda que a tua imagem assombre os meus mais íntimos desejos, pois na cabeceira da minha cama permanece o teu retrato. Continuo um romântico, só que não mais um confesso, pois o amor que eu ainda professo a ninguém posso revelar. Enquanto isso, qualquer lágrima será vadia, indigente e inconveniente, de preferência chorada no chuveiro que é para ninguém notar. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 27/05/2009
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