AINDA QUE SEM SENTIDO
NALDOVELHO Um laço, um nó, um embaraço, um emaranhado de linhas largadas num canto de um quarto. Perdi o fio faz tempo, só preservei o pavio, ainda que sem sentido, pois até a pólvora que eu tinha o vento soprou e levou. Um aglomerado de coisas, entre elas papeis rabiscados, esboços de imagens, bobagens, versos doídos, saudades. Guardei também muitos discos, apinhados num canto da casa. Ainda que sem sentido, pois até a vitrola que eu tinha a danada da vida quebrou. Um trinco, um cadeado emperrado, a porta do quarto trancada, móveis e utensílios sem uso, poeira, ferrugem, passado. No quintal uma velha goiabeira, um pé de amora e um balanço... Ainda que sem sentido, pois até a criança que eu tinha o tempo inclemente matou. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 28/05/2009
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