NALDOVELHO

POESIA É ATO DE CORAGEM

Textos

CAMAFEU
NALDOVELHO

Face marcada pela marcha do tempo, pele queimada pelo sol e pelo vento, já não tão ereto, meio curvado, mãos grossas calejadas, olhar de quem por muitos mares navegou, muito viu e nunca se assombrou.

Assim era aquele homem, já beirando os sessenta, na beira do mar tecendo suas teias que por ser pescador chamava de rede, uma grande e interminável mandala. Cigarro de palha no canto da boca, quase sempre apagado, vez por outra um gole de aguardente, saliva grossa, já quase sem dentes, velho camafeu onde a vida gravou tantas histórias, até por isso, um bom prosador. De fala macia, maneirosa, sempre generosa, seu canto nos mostrava uma velha cantiga sobre a força dos ventos, sobre o rumo das águas, um canto de amor.

Uma vez nos contou sobre uma sereia, uma linda mulher que morava num rochedo bem próximo à arrebentação. Disse que quando a viu, se aproximou, se enfeitiçou com o seu canto e por paixão se escravizou. Porém por amor ao mar ela o libertou.

Quando contava esta história, seus olhos ficavam marejados de lágrimas. Velho camafeu, quanta saudade!

O seu nome era Alceu, Alceu que um dia já não faz muito tempo, num fim de tarde chuvoso, com mar revolto de açoite, numa mudança dos ventos, virou uma lembrança querida, água do mar carregou. Deve ter retornado ao rochedo, onde mora aquela sereia cujo nome ele nunca nos revelou.


NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 28/05/2009
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