PARA QUEM NASCEU DE CASTIGO
NALDOVELHO Esse aí há de nascer sob o manto da estrela da manhã, de uma manhã de chuva, exatos três de agosto, ano do tigre, signo de leão. No Tarô, o Eremita será a sua carta, uma homenagem aos Homens do Caminho, um culto à solidão! Será filho de Omulú e Iemanjá, seus padrinhos serão Xangô e Mamãe Oxum. E tudo isso, com a licença de Oxalá! Já vai nascer de castigo, nada muito radical ou trágico. É pelo muito que andou aprontando em outras trilhas, caminhos. Apenas o suficiente para que ele possa aprender a reescrever seu destino. Contam os Anciões do Conselho que por força dos seus próprios desatinos, antes do renascimento, ainda na fase do preparo, quando o bolo estava sendo feito, de propósito, foi recheado com uma massa, danada de ardida, que um espírito amigo chamou de inquietação. E que por ser assim tão apimentada, até que fosse depurada, seria de difícil digestão. Está também previsto que ele vai ter que ser muito testado e vai ter que aprender a amar e a sofrer com os desencontros. Vai ser um colecionador de lembranças, cicatrizes, feridas e terá que aprender a lidar com as perdas e com o desencanto; a construir muitos castelos de areia para o mar poder desmanchar em dia de maré cheia. Vai ter sempre uma lágrima nos olhos pronta pra chorar, mas nunca vai poder se entregar ao pranto, mesmo que seja por uma saudade imensa e tardia. Vai ter que buscar sempre o remédio que possa estancar sua dor e vai ter que, finalmente, aprender sobre a dor; não mais a sua, mas a de tantos, que é pra que a dor que existe no mundo um dia saber curar. Será certamente um poeta, alguém com muita coragem e terá que escrever muitos versos, seus passos, caminhos, vivências; para quando merecer sair do castigo, poder se transformar num guia, não mais um anjo caído, um servo, um trabalhador do caminho, alguém com quem possamos contar. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 28/05/2009
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