NALDOVELHO

POESIA É ATO DE CORAGEM

Textos

VIAGEM
NALDOVELHO

Raros poemas se insurgem dispersos, insistem em conjugar o verbo em versos, num tempo presente de cores ausentes, gasturas que a vida deixou pra nós dois.

Raros poemas ainda brotam feridos, paridos urgentes, extraídos do umbigo, revelam a dor que o poeta hoje sente, por tantas escolhas, feridas latentes, estilhaços cravados, caminhos errados, desgovernados os rumos por falta de aprumo e o verbo ainda teima em ser conjugado.

Raras sementes germinam coragem, sobrevive o sonho, rebelado, em meu peito, vida que segue, prossigo em viagem por esperas, quimeras, imagens, bobagens, ilusões de um tolo, sonhos, miragens.

Adormeci, criança, ao som de cantigas, acordei estiagem, madrugadas ardidas. Primavera de outubro, vento frio aqui dentro, inquietude evidente, nostalgia, tormento.

Janela da sala, vidraça embaçada e a porta de entrada permanece trancada. As horas, tão lentas, amanhecem sedentas, afogadas as rimas, embaralhados os versos, coração do poeta, já nem tenta, se ausenta.

Primavera que explode plena de encantos, aqui dentro é inverno, faz frio e chove, e o poeta cansado já não esconde seu pranto.

Raras sementes se insurgem dispersas espalham coragem, apesar do inverno, de um tempo presente de cores ausentes, gasturas que a vida cultivou pra nós dois.

Raros poemas ainda sagram feridos, extraídos urgentes de dentro do umbigo, revelam chegadas, partidas, enganos, abismos, atalhos, sentimentos estranhos.

Raras palavras demonstram carinho, resquícios de um tempo de delicadeza onde tudo era sempre uma prova de amor.

Muita inquietude entranhada em meu peito, sobrevive o verbo, rebelado o sonho, vida que segue sem pensar no depois.

Janelas e portas, fechaduras, tramelas, vidraça embaçada, visão distorcida, descompassos do tempo, desarranjos da vida, primavera de outubro, chuva fina de inverno, vento frio lá fora, desconforto aqui dentro, nostalgia das horas passadas faz tempo.

Um café, um cigarro, o dedilhar num piano, um poema escrito, o nome dele é engano. Coração do poeta não anda lá essas coisas, pelas vias de acesso, tantos restos, dejetos, pelas rotas de fuga muitas pedras, entulhos.

Lá fora amanhece, aqui dentro anoitece. O radio ligado traz notícias dos longes, das coisas que por aí acontecem... Só não sei de nos dois!
NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 29/05/2009
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