CAMINHOS CONTRÁRIOS
NALDOVELHO Caminho contrário à força dos ventos, poema do avesso, perdi meu apreço, ainda tenho as malas, só não sei o endereço e os meus olhos não vêem as margens da estrada, mas percebo ao longe o barulho das águas, o cheiro das matas, da terra molhada, e sinto na carne o chicote do tempo que vibra inclemente e traz dor de presente. Caminho escorregadio, perigoso, estranho, e tem um abismo, lado esquerdo da estrada, ainda que eu não o veja, sei que está lá. Escolhas que eu fiz e, ainda hoje, as faço, por íngremes picadas, acessos que eu tento, sempre ao relento, madrugadas molhadas. Solidão e tristeza numa longa jornada, dormir ao relento, comer quase nada, nenhuma estalagem que sirva aguardente, nenhum colo quente de beira de estrada, só o silêncio de outras jornadas, viajantes que trilham caminhos complexos, ainda assim, diferentes, contrários ao meu. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 31/05/2009
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