COISAS DA NOITE
NALDOVELHO Já são dez as horas passadas das doze, o sol faz tempo se pôs, noite de outono, abril, sábado de lua crescente, vermelha e envolvente, a anunciar que as horas vão ser longas, cheias de segredos, sagrados e indecentes. Tempo de encontro entre amantes, de saciar a sede com água da nascente, água que embriaga, feito aguardente, água de cheiro, de cio, de gente. Nem tem muito tempo me perdi de você. E o rádio ligado, um Noturno, Chopin. Olho no espelho, já faz muitos, longos anos, certamente já não somos os mesmos e pelo jeito esta noite vai ser de lembranças, de muitos Martines, de muitos cigarros, noite propícia para o prazer de escrever. A solidão já não assusta, é até bem vinda, cria uma certa cumplicidade, boa para a inspiração, e eu continuo um romântico, desses incorrigíveis. Já passam das duas, madrugada latente, tomara que a noite nunca mais termine, pois ao amanhecer, vou ter que parar de pensar em você. Nana Caymmi, é um prazer tê-la aqui em meu quarto, sua voz num CD virou um raro e precioso prazer, desses que eu prefiro não ter que abrir mão. Já passam das quatro, madrugada de domingo, no ar o seu cheiro, o seu perfume... Coisa mais de entranhada, difícil de esquecer. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 31/05/2009
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