INCOERÊNCIAS
NALDOVELHO Trago as costas arqueadas pela força do chicote e o risco da navalha desenhado em meu rosto. Trago flechas encravadas espalhadas pelo corpo e as mãos ensangüentadas pela dor de tanto esforço. Trago a lágrima chorada na plenitude dos meus ais e no peito a certeza de chorar ainda mais. Trago a pele já curtida por caminhos, invernadas e o demônio aprisionado, companheiro de jornada. Trago o santo e o obsceno em batalhas desmedidas e a sanha desta vida por atalhos, despedidas. Trago a escolha de um rumo, conseqüências, incertezas e perda eminente por ter sido incoerente. Trago lábios encharcados de sorrisos e ternuras e nos versos o veneno, a inquietude e a loucura. Sou poeta, sou cigano, eremita, vagabundo, coisa incerta e descoberta pelas trilhas deste mundo. Ventania, correnteza, mar bravio, aspereza, água pura e aguardente, sangue frio e sangue quente. Sou deserto, sou oásis, sou procura, sou viagem, sou espinho que arranha, sou verdade, sou miragem. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 31/05/2009
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