CONTRA A MARÉ
NALDOVELHO Solitária nascente, gotejando sementes, construir o presente no ventre de uma mulher. Filetes de pedra, mais parecem espinhos, cristalinas escarpas, fronteiras em desalinho. Eu vi um menino a escalar a montanha e a escrever com as mãos o seu próprio destino, braço de um rio a sagrar o seu curso, navegar, navegar, descobrir o seu ninho, aportar, lançar amarras, alterar meu destino, fazer do amor que floresce a razão dos meus sonhos. Poderosa enchente que a tudo renova... Adernar, naufragar, me afogar em delírio, descobrir que a dor impulsiona o ser. Desgovernado que seja, alterar o meu curso, ver mar raivoso ser a foz de um rio, e uma velha embarcação resistindo ao açoite. Prosseguir mar afora, peregrino e vadio, pela força dos ventos, da saudade e do cansaço. Eu vi um menino, sobrevivente dos tempos, a escrever com as mãos o seu próprio destino, a procura de um norte, a desafiar a própria morte; suas mãos calejadas por lutar contra a maré. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 02/06/2009
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