VISCERAL E PROFANA
NALDOVELHO Trago a alma marcada por trilhas, espinhos, tocaias, madrugadas solitárias, silêncio, lembranças de outros tempos sangue, suor e aguardente, e em minhas costas, feridas, o chicote inclemente do vento. E a poeira... A poeira da estrada, entranhada pra sempre em meus poros. Trago em meus olhos a dor de um passado no exílio: solidão, culpa, vergonha, por feitiços conjurados, faz tempo, e na cintura repousa uma adaga, até hoje suja de sangue, por batalhas travadas nas sombras, sem sequer conhecer o inimigo. Escolhas feitas pelo caminho, algumas delas foram erradas. Trago as mãos calejadas pela colheita da uva e do trigo, pelo talho nas pedras que eu trago, esculpir, lapidar, revelar. E mais sangue, suor e aguardente, poemas, cantigas, imagens, nostalgia, saudades, miragens, inquietudes de quem procura desfazer pela vida o mal feito, construir um novo momento. Trago na pele asperezas, na fala delicadezas, nas veias muita aguardente, sangue viscoso, fumaça, vestígios de ervas daninhas semeadas impunemente, ou quase! E o corpo hoje reclama, mas continua teimosamente, na dança do tempo que implora por música, refrigério da alma, por poesia visceral e profana. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 02/06/2009
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