MINHA REVOLTA

MINHA REVOLTA
NALDOVELHO

Hoje não tem rádio ligado que toque música alguma que eu queira. Para ser sincero, detesto a Marcha Fúnebre de Chopin e o Toque do Silêncio, só me traz depressão.

Hoje tem noticiário "dantesco", regado com muito sangue, pedaços dilacerados de corpos reféns, crianças bem pequeninas, mortas por conta do fanatismo, da intolerância e do desprezo por aquilo que deveria ser a mais sagrada das dádivas: a vida.

Hoje, não tem poesia que suporte a ferocidade de animais travestidos de homens, que usam da suprema covardia de se esconder atrás de inocentes, e de tentar defender uma causa que se impõe falida por conta dos meios, por conta da dor.

Hoje, tem repúdio do poeta que se ausenta, tem lágrimas amargas pelo terror que se sente, tem o desespero pela perda e tem, principalmente, a certeza de que a religiosidade exacerbada e o sectarismo cada vez mais vai distanciar o homem dos caminhos de Deus.

Hoje, tem mais uma leva de espíritos que aturdidos pela violência, vão ser recebidos nos Umbrais dessa Terra, que cada vez mais se aproxima do expurgo amplo e necessário, pois só assim nos será possível permanecer a trilhar pelos caminhos do bem.

Hoje, o poeta, entristecido e perplexo, gostaria de estar armado, eu confesso! E poder como um anjo da morte, ainda que para isso tivesse que derramar mais sangue, cauterizar de uma vez as feridas, matar um por um os danados, estejam eles em qualquer lado, e que colocam bombas em ônibus, explodem trens abarrotados, alvejam crianças inocentes e ainda acham que o fim justifica, por estarem defendendo uma causa que fingem ser ungida, por quem?

Hoje, o poeta convive com o ódio em seu coração. Hoje o poeta lamenta, pois tem a nítida impressão de que em suas mãos, também existe muito sangue e em seu coração muitas duvidas, muito medo e muita apreensão.

NALDOVELHO

Enviado por NALDOVELHO em 03/06/2009

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