NALDOVELHO

POESIA É ATO DE CORAGEM

Textos

O CICLO DOS VERSOS
NALDOVELHO

A espera inquietante, o amanhã que não chega,
as horas tão lentas, grudentas, sedentas,
o instante presente preso ao passado,
e as janelas da casa permanecem fechadas.
Lá fora um anjo avalia os estragos,
aqui dentro um demônio, estiagem de sonhos.
Lá fora um vento sacode a cidade,
aqui dentro calmaria, nostalgia, saudade.
Uma garrafa de vodka, já pela metade,
papeis espalhados pelo chão do meu quarto.
Palavras recolhidas, reprimidas, indispostas,
poemas abortados ou colocados de lado.
A campainha da porta, faz tempo não toca
e o meu telefone quando toca é engano.
Lá fora o vento trouxe chuva bem forte,
aqui dentro calmaria trouxe medo da morte.
E insônia insistente avisa que é cedo,
vidraça embaçada, cidade nublada,
o rádio ligado, sintonia em desterro
e a música que toca revela segredos,
remexe em guardados, cicatrizes ardidas.
Lá fora o tempo melhorou e amanhece,
aqui dentro a chuva desperta e anoitece.
São águas que escorrem, recém nascido o poema,
ainda bem que os versos arrombaram comportas,
não mais cristalizados, represados em mim.
Lá fora um anjo sorri satisfeito,
aqui dentro o poeta se aquieta e dorme.
NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 04/06/2009
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