ALGUMA COISA MUITO PARTICULAR
NALDOVELHO Era uma vez um quarto e dentro dele uma música a jorrar das paredes, do teto, das janelas e da porta. Era suave e dominava todo o ambiente, embalava a cama e encharcava o lençol, e ao jogar no chão as cobertas, girava e fazia girar. Era uma vez uma mulher que dançava cigana, e que brotava como música nos seus braços, nos seus olhos, do seu peito, de todo o seu ser. Derramava feito água a se espalhar pela quarto, e ao tomar conta do meu corpo e me trazia muito prazer. E a música a tocar cada vez mais forte, e a mulher a brotar cada vez mais suave, que até o relógio, assim inibido, parou, sufocado pela música, do tempo se libertou. Era uma vez um domingo e você em meus sentidos, e os olhos presos ao relógio... Inventaram outro! que fica marcando o tempo, mas na hora certa se cala, para que as águas jorrem de novo. Era uma vez um momento, agora é um outro. Era uma vez um ontem, agora é o hoje. E eu continuo a girar com a mesma música, a beber da mesma fonte e a espera de reencontrar alguma coisa muito particular. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 05/06/2009
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