NALDOVELHO

POESIA É ATO DE CORAGEM

Textos

UM DIA QUALQUER
NALDOVELHO

Todos os dias você acorda, se levanta e se espanta. Já é quase hora e você se apressa, vai ao banheiro depressa, lava a cara e os dentes, escova os cabelos e se veste. Depois à cozinha, requenta o café e ele ferve! Mesmo assim você se serve, queimando goela abaixo, mastiga um pedaço de pão, olha para o relógio e se assusta, sai correndo, tropeçando nas pernas, novamente atrasado! Compra as notícias de ontem, entra na fila do ônibus e espera. Só que o relógio não. Merda, seu time perdeu outra vez! Você se desespera e se atrasa ainda mais.

Quando o ônibus chega é aquele atropelo, de jornal no sufoco, tem alguém debaixo do seu braço e os seus pés não tocam o chão. Você vai pendurado, amassado e no freio de arrumação seu jornal caí no chão. Abaixar, nem pensar!

Você vai praguejando, num trânsito escangalhado, até chegar numa esquina quando você é cuspido direto na calçada, em frente a um banco que por um destes milagres, que só Deus explica, é onde você trabalha.

Você entra correndo, colocando a gravata, procura o livro de ponto, já não esta mais no quadro... Algum babaca diligente levou pra mesa do gerente e tome esculhambação!

O jeito é pedir desculpas, tentar uma explicação. É sempre a mesma história, e esta já não cola! Toda segunda é a mesma merda, melhor aceitar o desconto, sentar o rabo na cadeira e começar a trabalhar.

O tempo correndo e você nem sente e quando percebe já é hora de ir para uma pensão barata comer uma comida qualquer. Depois voltar correndo e de novo em frente a um espelho, lavar a cara e os dentes. Voltar pro mesmo trabalho e novamente você nem sente, já são sete horas, o banco fechado, o puto do gerente foi embora faz tempo. Você se levanta, a bunda dolorida, entrega o movimento, já foi tudo processado, já foi tudo transmitido e você todo fodido, vai pra fila do ônibus. Novamente o atropelo, outra vez engarrafado.

Depois de uma hora e pancada você é de novo cuspido, só que agora dentro de um bar. Toma uma cachaça pra lavar a merda do dia, toma uma cerveja pra urinar ele depois. Não acha que é o bastante, repete a dose e pronto! Já está meio bêbado, meio torto e o ombro dói pra cacete, a coluna queimando empenada, vai se arrastando pra casa, encontra a mulher no portão.

A comida posta na mesa, Dona Maria de cara amarrada! Você arrisca uma saliência, ainda sobrou tesão! Ela sente o bafo de cana e arma um tremendo barraco.
- Porra de mulher! Parece até meu patrão!

Puto da vida, você se levanta, quase nem toca na comida e vai assistir televisão. Não tem nada que preste, e o que presta não passa, e dá um sono danado, você vai dormir enjoado, xingando as suas escolhas e até a falta de escolha.

Queria poder entender, achar um caminho, saída! Quem sabe mudar de emprego? Quem sabe trocar de mulher? Quem sabe mulher nenhuma pegando no seu pé! Acha melhor virar vagabundo, desocupado ou coisa assim. De repente entrar para a política, cometer um assalto! Assalto não! Melhor virar vereador, é mais seguro. Dá pra ganhar uns trocados, ser chamado de doutor, sem correr o risco de um dia sair de casa algemado, por conta de algum negócio escuso, que você malandramente arrumou.

E a patroa continua emburrada, e a coluna continua doendo... Trepar nem pensar! Melhor mesmo é dormir, amanhã é um outro dia. E enquanto um novo não vem, quem sabe Deus não se toca e lhe tira do castigo. Acho que o nome é indulto! Pode ser também anistia, coisa que é aplicada em bandido.

Anistia é em banido! Destes que vivem no exílio. Quem sabe não acerta na Sena, um dia qualquer acontece. É só manter a esperança e não entregar os pontos. Um dia qualquer, qualquer dia...
NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 11/06/2009
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