MINHA POBRE E TUMULTUADA BIOGRAFIA
NALDOVELHO Na manhã que eu nasci, exatos três de agosto de 1950, chovia tal qual num dilúvio, temporal do bravo! Raios, trovões, muita lama, tudo inundado. Aí a parteira avisou: este bichinho tá encruado! Minha avó, feiticeira, macumbeira de quatro costados, quimbandeira famosa, fez promessa pros Santos! Iemanjá foi a primeira e a ela fui destinado, Oxossi, flecha certeira, do lado da berço se postou; muita pipoca depois: Omulú então se achegou. Xangô apareceu de repente, só pra ficar complicado! Mamãe Oxum se enamorou e até hoje anda ao meu lado. Assim que nasci, abriu um sol cristalino e a vida estava consumada. Filho de operários, infância pobre, pés descalços, moleque de rua, morei em favela (antigamente chamava morro!). Adolescente problema, tipo desajustado, caí na vida muito cedo, a primeira vez aos quatorze; exuberante priminha, quase fui violentado, no final ela teve pena e me tratou com cuidado. Estudante brilhante, escolas públicas da vida, aos dezoito, subversivo... Levei até porrada! Minha mãe, também comunista, depois virei anarquista, nos dois sentidos, é claro! Sempre fui um artista: a música e a poesia a gritar, dilaceradas, por ser eu alguém tão descuidado que a sério nada levava e que não honrava seu dom. Mergulhei bem fundo, aos vinte, muitas ervas, viagens, por quatro anos, drogado, depois, parei assustado, ao ver e falar com seres estranhos, engraçados... Muita inquietude presente, muita cachaça, aguardente, alcoólatra confesso, dos vinte aos quarenta, e aí parei de repente: pancreatite, cirrose, quase morri ou me matei... Melhor nem pensar! Alguma coisa lá dentro me deu força e eu retornei, só pra mostrar pra esta gente, o quanto é duro matar aquele que nasceu coroado. Algumas mulheres importantes ensinaram tudo o que eu sei. Grandes e maravilhosas guerreiras, angelicais, feiticeiras, mestras, protetoras e parceiras, responsáveis na minha vida por muita dor e prazer. Casado faz 30 anos, grande mulher, dedicada, uma filha com 28, geneticamente inquieta, muitos bichos, minhas plantas; um LAR. Hoje um ser mais ou menos apaziguado, um espírita por suas crenças, e que apesar de tudo se considera um homem sem fé. Parece incoerência? É não! É que a crença é filha da compreensão. Vários concursos públicos, em dois eu passei. A Refinaria foi uma escola, lá vi a morte de perto! Depois virei bancário, gerente de conta e de gente, mas muito mais de gente; um profissional conceituado, que depois, por ter optado pelas pessoas, foi considerado ultrapassado. Ainda bem que chegada à hora, me aposentei. Depois, foi só mergulhar nesta que é a minha melhor viagem: música, poesia e meus quadros. Sem esquecer das pessoas, quero continuar a me dedicar a tudo aquilo com o que eu sempre sonhei. As entidades que me trouxeram ainda estão ao meu lado! Belas, amigas e responsáveis por toda a força que eu tenho, por tanta compreensão conquistada e desconfio seriamente, por alguns belos poemas que pela graça de Deus eu fui capaz de escrever. Mais não posso dizer! Muitos segredos guardados, alguns, eu transformo em poemas, outros ainda cristalizados; e a espera que eu possa trazer às pessoas, as coisas boas que aprendi ao viver. Entrego a vocês, então, meus versos, poesia verdade, visceralmente corajosa, feita com muito amor ao sagrado ofício de ter a pretensão de ter algo a dizer. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 12/06/2009
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