ANDO MEIO DÉMODÉ
NALDOVELHO Gosto de valsas, boleros, chorinhos, toadas, broa de milho, angu de corte, filmes antigos, de água de cheiro a banhar meu corpo, de incensar todos os dias meu quarto, de arroz com feijão, macarrão e carne moída, de sapatos que me tragam conforto, de cuecas e camisas bem largas, e de bermudas que sejam cumpridas. Gosto de passear pelo jardim, de sentir o cheiro das plantas, de apreciar o cochicho dos pássaros, de uma boa prosa ao entardecer, de um sorriso quando beijo o seu pescoço, de ficar agarradinho, pernas embaralhadas, cada vez que respiro fico mais viciado em você. Gosto de avencas e samambaias choronas, também gosto de renda portuguesa, tenho uma queda por gerânios, azaléias, lírios, orquídeas e jasmins, só tenho medo das rosas, apesar de belas, trazem espinhos, costumam sangrar. Gosto de caminhar pela orla, do vento acariciando a tarde, e da terra molhada, o seu cheiro. Gosto de lua cheia e exibida, e das nostalgias desta vida; das noites frias de inverno e madrugadas passadas ao seu lado; chega mais perto e me abraça, só não rouba o meu travesseiro! Depois dormir até tarde, café forte e encorpado, tudo isto vale mais que um poema, vale a pena viver com você. Gosto de ler poesia: Bandeira, Drumonnd, Manoel de Barros, Cecília; gosto de música que arde, Tom Jobim, Milton, Egberto, e ontem descobri que nasci no tempo certo, tempo em que pude viver muita coisa que apesar de estarem, hoje, fora de moda, não consigo deixar de querer. DÉMODÉ = Palavra francesa, traduzida como fora de moda. NALDOVELHO
Enviado por NALDOVELHO em 02/07/2009
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